Testemunho: Ana Catarina Pereira


Já tod@s nos questionámos sobre o futuro da Universidade num contexto inédito como o que vivemos. A máscara, o desinfectante, a projecção de voz, o distanciamento, o receio, o visualizar de cada alun@ por detrás de uma porção de tecido que lhe cobre mais de metade do rosto ou na janela de uma plataforma criada para ensino à distância. Ninguém nos pode oferecer ainda uma resposta concreta. No entretempo, da inquietude que necessariamente transporto ao exibir da segurança esperada de uma docente em sala de aula vai uma gigantesca distância. 

Oscilo entre os dois polos quando me dou conta de que ser professora universitária não é uma viagem solipsista, nem tão pouco um caminho tribal ou gregário. Se os tempos são difíceis, a reflexão, o cuidado e a capacidade de tomar decisões tornam-se mais necessários. Como necessária é a recuperação da visão humanista da universidade. 

Para além da pandemia, nos próximos anos, a UBI enfrentará desafios decisivos, que deverão substanciar três dos seus traços essenciais. O primeiro traduz-se no reforço dos laços e parcerias com as instituições culturais, empresariais, públicas e privadas da região em que se insere, reafirmando-se como motivo de atração demográfica e fixação de alun@s. Reafirmando-se, nesse sentido, como Universidade Da Beira Interior. E ser do Interior, tenho tentado dizê-lo tantas vezes, revela uma marca identitária forte na vida e na arte de cada uma (ou de cada um) de nós. Ao anonimato e à ausência de elementos distintivos que povoam as grandes cidades, contrapomos mais do que as costumeiras carências apontadas a uma imensa área geográfica. Apresentamos pessoas que se constroem no assimilar de tradições, naturezas, hábitos e multiculturalismos diariamente redefinidos. A experiência pedagógica na Universidade da Beira Interior provém assim de uma vida sem arranha céus, aeroportos, mediatismos e centralidades, com a força e a personalidade próprias de quem se sente pertença, de quem conhece o nome, a origem, o interesse, a vontade e o desejo de cada aluna ou de cada aluno: fomentando a diversidade, a multiculturalidade e a igualdade de oportunidades. 

O segundo traço convoca o nosso crescente processo de afirmação, com um promitente posicionamento entre as melhores do mundo, e no qual importa reinvestirmos: tod@s, em conjunto, sem nos perdermos em discursos vazios sobre a irrelevância desse tipo de categorizações. Por fim, será determinante fomentarmos redes nacionais e internacionais de pesquisa científica e de criação artística, aproveitando-se a proximidade geográfica e linguística já protocolada com diversas instituições maioritariamente lusófonas e europeias, alargando-se ainda os horizontes de actuação.

Sendo natural da cidade da Covilhã, é nessa conjugação dos sentidos local e global, pessoal e público que me revejo. Um projecto de ensino universitário compreende um sentido de universalidade e de integração de tod@s, independentemente da sua raça, religião, género, idade ou condição social, como as constituições dos países democráticos já nos garantem, mas nos compete ainda a nós salvaguardar. É nesse sentido que acredito que devemos caminhar, enquanto agentes promotores de direitos humanos.

O meu apoio à candidatura do Professor Mário Raposo nasce assim das incertezas do momento presente e da necessidade de um projecto empreendedor que contorne a indefinição quotidiana. O meu apoio à candidatura do Professor Mário Raposo nasce da defesa de um plano transparente e rigorosamente definido, à dimensão de uma Universidade Da Beira Interior e do Mundo. À dimensão de uma Universidade jamais marginal ou periférica, mas sempre inclusiva.

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