Por uma Investigação Plural


As línguas são, certamente, umas das maiores invenções da humanidade. E, invenção ainda maior, elas são todas diferentes umas das outras. Assim, podemos dizer coisas numa língua que não podemos dizer, ou não podemos dizer da mesma maneira, numa outra. 

Há, em inglês, uma distinção que não existe em português: a distinção entre research (investigação) e search (procura). Esta distinção permite perceber como, ao contrário da investigação, que percorre caminhos já percorridos (re-, de repetição), a descoberta procura caminhos novos. A presença ou ausência do prefixo permite, segundo o texto clássico de Frayling, distinguir entre ciência e arte

Não é apenas essa distinção que aqui me interessa. O que me interessa é observar que, a partir da palavra search (descoberta), podemos compreender a multiplicidade das formas de conhecimento: as ciências matemáticas, as ciências naturais, as ciências sociais, as filosofias, as artes. 

Em todos estes domínios, mais importante do que investigar é descobrir.  Creio que é desse modo que se pode entender a afirmação de Einstein de que “A imaginação é mais importante do que o conhecimento. O conhecimento é limitado. A imaginação dá a volta ao mundo.” De todas as hipóteses e ideias criadas pela imaginação, apenas algumas serão validadas; os “trabalhadores da prova” (Bachelard), por muito importantes que sejam – e são-no -, aparecem sempre num segundo momento.  

A universidade é, precisamente, o local e a instituição em que a investigação e a descoberta, o conhecimento e a imaginação podem e devem encontrar-se.  

Daí que não tenha sentido uma universidade que, colocando-se numa lógica de capitalismo cognitivo mais ou menos tacanho, promova a hegemonia de umas formas de conhecimento (“rentáveis”) em relação a outras – em vez da pluralidade.  

Pela mesma razão, não tem sentido uma universidade que, vendo-se como uma mera corporação de “mestres”, enfatize a transmissão de um saber já feito – em vez da partilha da curiosidade e do espanto.   
O que eu digo não é uma evidência? É, certamente. Mas importa lembrar as evidências, já que são elas o que mais facilmente esquecemos em tempos de mudança. 

Paulo Serra
Departamento de Comunicação, Filosofia e Política
Faculdade de Artes e Letras

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